segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Fugindo de casa.

Estava pensando dia desses em fugir de casa, arrumar a mochila, colocar coisas indispensáveis ao meu dia-a-dia e colocar o pé no mundo. Pegar umas moedas, minha meia-passagem, pagar o ônibus e seguir rumo à minha independência, sentindo o vento artificializado pelos carros, ouvir as buzinas nervosas do trânsito. Coloco a mão no bolso e vejo que estou desprovida de qualquer vintém. Bem, tenho certeza que ninguém entenderia em casa se eu dissesse que precisava de algumas moedas para fugir. Agora como conseguir? É o jeito quebrar meu porquinho, tadinho dele, mas é por uma ótima causa.

CRASH! - "dez, vinte, trinta...hm, acho que isso aqui vai dar."

Olho pra minha mãe com ar de despedida, com as lágrimas quase escorrendo, mas é preciso ser forte para ser independente. Antes que alguém me visse ou notasse, já estava em direção à parada de ônibus, com uma mochila abarrotada de gibis ,umas roupas de "ficar em casa", o "walk-man" e por fora o peito estufado de tanta coragem.

Na metade do caminho, porém, as pernas já começam a ficar bambas, os passos mais fracos e no estômago o anúncio de que já estava perto da hora do almoço. E no bolso nada além de trinta e cinco centavos.

- "Acho melhor fugir depois do almoço..." - parada para pequena e básica observação.

RONC - Estômago covarde!

- "É! Mas do almoço não passa!!!"

E mais uma tentativa de busca por "independência" se vai, com grandes vitórias, é claro. Dessa vez eu já havia conseguido passar de três casas após a minha.

- "Mãe! Já tem almoço???"

- "Tá quase, só falta o arroz! Vai lá na taberna comprar?"

-"Claro, mãe..vou sim! Posso comprar batom com o troco?"

- "Tá, compra, mas é só pra depois do almoço!"

E lá se vai a garotinha corajosa e saltitante comprar o arroz que sua mãe pediu. Com o coração entupido de orgulho por ter tido tamanha coragem...

Quer dizer... nem tanto assim...

Sabe de uma coisa? Hoje em dia nem tem mais graça tentar fugir de casa. A passagem do ônibus tá caríssima, tenho trabalho da "escola" pra fazer, meu violão não cabe na mochila, os gibis estão muito sem graça, agora eles não têm "desenho" (quer coisa mais chata?). A verdade é que a minha casa tornou-se o inverso. Hoje em dia a minha casa é meu abrigo. Continuo procurando minha independência sim, mas o bom mesmo é voltar pra casa.

Ih! Vai chover, vou ter que sair aqui do balanço. Vou lá dentro falar com a mamãe, talvez ela precise de alguma coisa. Quem sabe não sobre um "batom" ainda pra mim.

Inté!

Um comentário:

Laci Reis disse...

Lindo demais o que acabo de ler.
É gratificante encontrar coisas simples dentro de uma magnitude incrível.
Esta mostra literária saiu de uma fonte onde aflora poesia em versos e que mais cedo ou pouco mais tarde, seremos contemplados com mito que há por vir.
Parabéns,Lorena!
Deixe fluir as linhas e entrelinhas...